sexta-feira, outubro 06, 2006

De regresso

«Das coisas
Que competem aos poetas
Oh as casas, as casas, o valor do vento
Nada consta
Peregrino hóspede sobre a terra
Um quarto
As coisas
A cabeça
Onde só o silêncio é soberano…»


Ruy Belo










Ninguém nos ensina o alvorecer.

É preciso estar presente e sentir, ouvir, palpar, olhar as tonalidades do novo dia. Com o determinismo que os milénios nos ensinaram, sabemos que o sol aparece naquele mesmo horizonte, à direita da Estrela Polar que fenece.

Ir ao encontro do dia sobre o Atlântico é revigorante para uma alma escurecida já por uma saudade futura. Num repente, a claridade surge não se sabe donde, um momento após a escuridão total, subitamente, num abrir de olhos fechados há minutos.

É num momento assim que tudo se suspende em nós. Vagamos no espaço vazio, na paz e quietude que dura poucos minutos, esquecido o que fomos, o que seremos. Apenas e só o presente efémero.

Há que fazê-lo, o turbilhão vem aí. As guerras, as crianças maltratadas, a violência gratuita, o desemprego, a fome, a injustiça, a incerteza do futuro.