Quis saber quem sou, o que faço aqui
Quem me abandonou, de quem me esqueci
Perguntei por mim, quis saber de nós
Mas o mar não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor, em tristeza e fim
Eu te sinto em flor, eu te sofroem mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer como amar
É ganhar e perder.
Quem me abandonou, de quem me esqueci
Perguntei por mim, quis saber de nós
Mas o mar não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor, em tristeza e fim
Eu te sinto em flor, eu te sofro
Eu
Partir é morrer como amar
É ganhar e perder.
Canção de Abril
Ler a nota de abertura duma revista semanal nesta manhã cálida, é suficiente para acordar memórias, vibrações, aquelas sensações indizíveis que mexem cá dentro quando se escreve do outro lado da barricada, realmente na construção de uma «memória colectiva em que se alicerça a identidade de um povo».
Tem pouco sentido nos jovens que vivem o Portugal de hoje, na faixa etária que chega aos 40 anos, porque desses, ninguém sabe o que foi Abril, o que significou para os que cresceram e se formaram dentro da ditadura. Nunca é demais lembrar-lhes como se depositaram esperanças de todas as vidas nessa Revolução dos Cravos de cor vibrante e intensa, destemperada como a água da represa quando se abre uma comporta. Brota esplendorosa em véus de noiva lavrados de espuma, concretizando os projectos de para sempre, até ao dia em que a seca vai reduzindo o caudal, até ao dia em que o rio não é mais do que um regato e a comporta nem tem mais razão para abrir.
Porém, é preciso que se procure a origem da escassez, que se encontre dentro de nós a razão de ter descido o nível das águas, que outros afluentes foram desviados a montante, que sedes de excessos, que esquecimentos, que desatenções, que faltas de empenho, de amor pelo outro. Trinta e seis anos depois, continua a haver portugueses a morrerem de fome, a emigrarem, a irem para a guerra, não para defender outros portugueses, mas europeus e asiáticos. Continua a não haver, como nunca houve, espírito de grupo, de união, de solidariedade, de civismo, não há uma cultura instalada que nos ensine como a democracia joga falso em Portugal. É que a democracia dá expressão à maioria e Portugal continua a ser um país de gente inculta (ainda que muitos saídos das universidades e pólos universitários que cobrem o país) no que respeita aos valores fundamentais que nada têm a ver com euros. Assim, a maioria que ganha obriga à submissão da minoria que não sofre de iliteracia.
A Democracia em Portugal nunca vai funcionar em pleno, enquanto a Educação não for o princípio e o fim de todos nós.